Doença de Crohn e o tratamento com a nutrição antroposófica

por | out 22, 2021 | Bem-Estar

Na nutrição antroposófica, compreendemos a patologia como uma manifestação da desarmonia do corpo e da mente. Quando uma pessoa é acometida por uma doença, aspectos do seu mundo interior, biografia e hábitos de vida, precisam ser olhados com atenção e acolhimento. A doença de Crohn, autoimune, inflamatória e crônica, não é diferente.

Ela foi descoberta pelo famoso gastroenterologista inglês, Dr. Burrill Crohn, que a identificou como uma doença moderna, proveniente dos hábitos de higiene exagerados que a sociedade adquiriu ao longo dos anos.

Este artigo explica um pouco mais sobre a doença de Crohn, patologia que acompanho de perto, afinal minha filha convive com ela há muitos anos.

Doença de Crohn x Retocolite Ulcerativa: saiba a diferença

A doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa costumam ser de difícil diagnóstico e são muito confundidas pelos pacientes pela semelhança dos sintomas. Ambas fazem com que todo o corpo sofra com a inflamação (uma reação exacerbada do próprio organismo), provocando até dores nas articulações e possuem diferentes graus de intensidade de acordo com cada caso.

O Crohn pode se manifestar da boca até o ânus, acometendo pontos distintos do sistema digestório, principalmente no intestino grosso (cólon). Já a Retocolite geralmente atinge a região do reto, cólon sigmoide e descendente, e a inflamação é limitada a uma determinada região.

É importante entender que cada parte do intestino tem as suas características e funções distintas. Quando uma delas é afetada, pode desencadear sérias consequências para o restante do organismo.

Como a doença pode se desenvolver?

A doença de Crohn pode ser desencadeada por uma série de fatores, variando de uma pessoa para a outra, como pré-disposição genética, hábitos alimentares ruins, desequilíbrios emocionais ou estresse intenso, descompensação do sistema imunológico e até fatores ambientais.

As crises podem ser pioradas por conta da má alimentação, carregada de produtos industrializados com conservantes, corantes, flavorizantes, condimentos, açúcares e gorduras em excesso. Esses produtos alimentícios são altamente inflamatórios e extremamente agressivos para o indivíduo, especialmente para aqueles que possuem alguma DII.

Quais são os sintomas?

Entre os sintomas mais comuns, estão: fraqueza, desanimo, febre, dor nas articulações, cólicas intensas, diarreia, sangue nas fezes, muitas vezes levando a quadros de anemia severa, dificuldade na absorção de nutrientes, e dependendo da gravidade, outras complicações, como fístulas.

Pense assim: cada vez que nosso intestino é atingido por um agente agressor, ele acaba ferido, inflamado, adoecido e vai perdendo a sua função primordial, que é a absorção de nutrientes e a excreção de substâncias que não servem mais para o corpo.

O resultado é um organismo sistemicamente comprometido – nesse caso a febre pode estar presente, mostrando que algo não vai bem (inclusive sinal de uma possível infecção). Com o passar do tempo, se esse intestino não for tratado, além de perder sua  função de absorção, há a cronificação  da inflamação, aumentando a incidência de pólipos e o risco de desenvolvimento de câncer.

Conheça mais sobre o diagnóstico

O diagnóstico da doença de Crohn costuma ser feito por um gastroenterologista, que avalia a condição clínica do paciente e seus exames, como a colonoscopia e a endoscopia. São procedimentos que necessitam de preparo hospitalar para garantir a segurança do paciente, especialmente quando o intestino está muito fragilizado.

Alguns exames complementares também podem ser realizados, como tomografia, ressonância magnética, endoscopia por cápsula, enteroscopia, cultura de fezes, exames de sangue, como hemograma, controle de ferro e vitamina D, marcadores inflamatórios, entre outros.

Muitas pessoas podem ter a doença e ignoram os sintomas por serem “constrangedores” ou por acharem que é uma simples dor de barriga. Falar sobre a saúde intestinal e seus sinais ainda é uma dificuldade para muitos, afinal, ninguém sai falando que encontrou sangue nas fezes, que tem problemas com gases, que faz uma bagunça danada quando vai ao banheiro, ou que está com diarreia há um mês, não é mesmo?

*Precisamos falar sobre as nossas FEZES. E para isso, precisamos olhar para elas! #ficaadica*

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Como cuidar da Doença de Crohn?

Quando a doença de Crohn é diagnosticada, o tratamento medicamentoso para o seu controle é prescrito pelo gastroenterologista e pode variar de acordo com o grau de severidade. No período de crise costuma ser prescrito o uso de corticoides, enquanto em outras situações é indicado um anti-inflamatório local, imunomoduladores, antibióticos e aminossalicilatos.

Além do tratamento medicamentoso, é fundamental procurar orientação de um nutricionista, pois a doença de Crohn está diretamente relacionada com a alimentação do paciente, sendo que os principais agressores do intestino são provenientes da ingestão alimentar.

O paciente de DII precisa ser cuidado de forma integral, abrangendo todos os aspectos que possam ser agentes agressores e gatilhos para crises. Trabalhos terapêuticos e artístico terapêuticos,  acompanhamento psicológico, participação em grupos de apoio e a realização de atividade física adequada são cruciais para o processo de acolhimento da doença e da condição diferenciada do paciente, que pode trazer desconfortos em situações sociais comuns, tristezas, anseios e angústias.

Trabalhar o emocional faz parte do tratamento, portanto o convívio com a doença precisa ser aprendido, e as situações desconfortáveis, muitas vezes consideradas constrangedoras, precisam ser naturalizadas e humanizadas.

Sob o olhar de uma paciente

Como mencionei logo no início do meu artigo, minha filha foi diagnosticada com a doença de Crohn ainda na adolescência. Separei um pequeno relato dela, que mostra a patologia sob o olhar e a pele de um paciente.

“Minha pior crise foi aos 18 anos, uma época difícil na vida de qualquer adolescente. Era tempo de vestibular, de enfrentar o mundo e iniciar um caminho com as próprias pernas. Essa é uma fase desafiadora, em que todas as suas forças estão direcionadas para descobrir e galgar o mundo, se firmar como indivíduo independente, se desgarrando e diferenciando do meio familiar para encontrar o seu próprio caminho e identidade.

É um tempo de vitalidade total, de descobrimento da sexualidade, do poder da vida. Por isso encontramos tantos adolescentes que acham que são “invencíveis”, pois sentem a potência da vida pulsando em seus corpos. A minha história foi um pouco diferente. Toda essa potência de vida precisou ser redirecionada para dentro.

Enfrentei coisas na adolescência que normalmente se apresentam no final da vida, a finitude, a fragilidade do corpo e a vulnerabilidade nas situações mais corriqueiras do dia a dia. Precisei da minha família mais do que nunca, fiz o movimento contrário de todos os meus colegas, adentrei ainda mais no seio familiar, do contrário não conseguiria sobreviver, não tinha estrutura para enfrentar sozinha.

Camila precisou fazer muitas mudanças em sua vida:

De um dia para o outro tive que mudar muitas coisas, sofri com os efeitos colaterais dos medicamentos e as restrições alimentares. Tive que aprender a dar o devido respeito ao corpo, e descobri que ele merece ser alimentado com coisas BOAS. O que nós comemos deve estar ligado com a nossa força de vida, e não com prazeres momentâneos ou ilusões. A alimentação foi o meu primeiro caminho de autoeducação e da elaboração da força de vontade lastreado na vida.

Não foi nada fácil, mas em nenhum momento eu desisti, a vida sempre fala mais alto, ainda que estivesse sofrida. Aprendi coisas valiosíssimas que hoje são minhas ferramentas para enfrentar os desafios como uma mulher adulta, resiliente, forte e acima de tudo: saudável”, contou.

Como a Camila disse, é um longo processo que necessita de um mergulho para dentro de si mesmo, a fim de compreender o próprio corpo e suas reais necessidades. O acompanhamento com especialista é indispensável.

O trabalho nutricional e alimentar com pacientes de DIIs, especialmente nos casos de doença de Crohn, é baseado na correção e recuperação da desnutrição causada pela condição inflamatório crônica e desabsortiva, e na deficiência de nutrientes importantes para essa recuperação.

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Falando dos alimentos na prática: o que pode ser bom ou ruim??

Opte por alimentos que vêm da terra, quanto mais natural, melhor. Podem ser bons: Frutas frescas, legumes da época, fibras solúveis, peixes pequenos e se optar por um caminho vegetariano, melhor ainda!

Algumas suplementações também são recomendadas, como um bom Ômega 3, probióticos e suplementos especiais para recuperar os enterócitos (células que compõem o intestino).

Dentre os alimentos que podem ser bem ruins estão: leite in natura e seus derivados, trigo que contêm fortemente a presença do glúten, carnes vermelhas, leguminosas sem o devido tratamento de remolho, gorduras e carboidratos em excesso, assim como açúcares de adição e todos os produtos alimentícios que a indústria oferece em potinhos, saquinhos e latinhas.

Mas as mudanças não param por aí: trazer o movimento para o dia a dia faz toda a diferença, portanto, inclua atividades físicas no seu “cardápio”, mantenha-se hidratado, sorria muito, olhe suas dificuldades de forma acolhedora sem perder o humor de si mesmo. As dificuldades que o mundo traz nos dá outra perspectiva de tudo o que nos cerca.

Ficou com dúvidas sobre a doença de Crohn? Podemos conversar melhor, agende uma consulta:

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