Pedagogia Waldorf e a nutrição adequada

por | jan 10, 2022 | Bem-Estar

A pedagogia Waldorf tem um olhar antropológico e caráter terapêutico sobre o pensar próprio, integrado e consciente dos direitos e deveres do individuo, promovendo uma geração mais fraterna.

Os princípios são trabalhados segundo o conceito evolutivo dos setênios (a cada sete anos), trazendo a saúde em primeiro lugar. Quando as características de cada setênio são desenvolvidas e vivenciadas de forma adequada, o indivíduo elabora habilidades que serão ferramentas para uma vida adulta regular. É um movimento espiralado baseado em acontecimentos anteriores, portanto quanto mais regular o setênio for, melhores serão as chances de enfrentar os próximos desafios com sucesso, e assim sucessivamente.

Crianças de primeiro setênio aprendem por imitação de pais, professores e de todos que convivem com ela. É nesse período tão fértil que a moralidade é fundamentada.

E qual o papel dos professores dentro da pedagogia Waldorf

Importantíssimo! O professor Waldorf “ilumina” seu aluno, seja com seus ensinamentos ou sua postura frente à vida. Ele precisa constantemente elaborar a educação da vontade, para que a criança sinta a coerência e verdade entre aquilo que é trazido como fala e suas vivências. Em relação à alimentação, todo professor deveria rever suas condutas e escolhas alimentares, uma vez que a alimentação pode abrir ou fechar portas, já que o professor é o exemplo em que as crianças se espelham.

A criança precisa de ritmo e o professor é quem traz a vivência rítmica para seus alunos. Sabe aquele professor que ensinava de uma forma tão divertida que a aula passava rápido e você nem percebia o quanto tinha aprendido enquanto ria? Com certeza alguém especial vem à mente. Quem sabe trazer o aluno para a concentração máxima e depois descontrair, criando um ambiente agradável, propício para o desenvolvimento e com conteúdos que permeiam a alma, faz toda a diferença no processo de aprendizagem saudável.

Essa vivência rítmica tão importante também está presente na pedagogia Waldorf através das atividades intelectuais e manuais, das festas e ciclos pedagógicos e da forma em que a escola é estruturada no seu dia a dia. Cada coisa tem seu tempo de acontecer e de ser revisitado. Tudo é carregado de significado e nada é ao acaso. Pedagogia e alimentação são coisas sérias!

“Era em tempos antigos,

Em que vivia vigoroso nas almas dos iniciados

O pensamento, que doente por natureza

Todo ser humano é.

E a educação era considerada

Igual ao processo de cura,

Que a criança junto com o amadurecer

Trazia a saúde

Para tornar-se um ser humano perfeito na vida.”

A relação família/escola e a alimentação

Nas diversas escolas Waldorf, criam-se sistemas de compartilhamento de lanches entre os alunos: por exemplo, cada dia é a vez de um aluno trazer o lanche da classe inteira, sendo assim o lanche é feito pelas famílias com orientação da escola, coerente e adequado à realidade da comunidade. Isso reforça a alimentação saudável como aprendizado, a vivência do compartilhamento fraterno, o senso do coletivo e da humanidade como um único organismo.

A alimentação praticada na escola pelas crianças merece um olhar atencioso e quando necessário, uma orientação mais específica da nutricionista, uma vez que através da alimentação alguns ajustes podem ser feitos, principalmente quando é percebido questões de comportamento ou dificuldade no processo de aprendizado em sala de aula. 

Não foi à toa que Steiner ofereceu a nós como imagem trimembrada, a constituição humana em correspondência com o mundo vegetal com suas qualidades tão necessárias para plasmar o nosso organismo. Essas correspondências são:

  • SNS (sistema neurosensorial) com alimentos que se desenvolvem debaixo da terra: como as raízes;
  • SR (sistema rítmico) com os caules e folhas;
  • SMM (sistema metabólico motor) com o polo floral dos vegetais: como flores, frutos e os cereais.

São elementos que precisam estar presentes no dia a dia alimentar das crianças e que facilmente podem ser identificados.

Nutrientes são fundamentais nessa fase de vida, favorecendo o processo de crescimento, aprendizado dos conteúdos oferecidos à criança e ao desenvolvimento adequado dos doze sentidos. Cereais integrais, fonte de silícia, importante para o desenvolvimento cerebral, além de sua riqueza energética acompanhada de fibras para o bom funcionamento e manutenção do intestino.

Frutas precisam estar presentes no período da manhã, ricas em micronutrientes, são o “bom dia” para os corpinhos em crescimento.

A alimentação adequada não é somente o equilíbrio entre os macronutrientes (carboidratos, proteínas, gorduras e fibras alimentares) e micronutrientes (vitaminas e sais minerais), mas também sobretudo, sua origem, como esse alimento é preparado e sua variabilidade ditada ritmicamente pela sazonalidade e regionalidade, sem a presença de substâncias químicas como pesticidas, herbicidas e adubos quimicamente preparados.

Excessos de carboidratos como pães de farinhas brancas, açúcares de adição ou produtos alimentícios oferecidos no café da manhã para as crianças, vão na contramão do aprendizado.

Somos responsáveis pelo nosso alimento e de nossas crianças, faz parte do processo de desenvolvimento da consciência e da autoeducação. Praticamos primeiro conosco para que a criança cresça aprendendo a se alimentar fazendo boas escolhas, de forma consciente e com responsabilidade social, garantindo que as futuras gerações sejam mais saudáveis.

Hoje estamos vivendo um verdadeiro resgate na relação alimento / homem. Para que se consiga ter um sono reparador, ânimo durante o dia, possiblidade real de aprendizado e memorização, é bom rever sua alimentação, ela é a chave para que nosso organismo tenha condições de viabilizar todos esses processos, sejam eles meramente orgânicos ou na mais ampla visão da constituição do ser.

Lembre-se, alimento é coisa séria.

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