Alimentação infantil: Renata S. Eisenmann fala sobre o impacto na construção do ser

por | ago 26, 2021 | Alimentação Saudável

A alimentação infantil é primordial para o desenvolvimento da criança e sua constituição ao longo de toda a vida. Isso principalmente quando entendemos que a nutrição é mais do que a comida que vai no prato, em verdade, a nutrição é tudo o que envolve e cerca o indivíduo, desde a forma como vivencia as experiências, o ambiente em que está inserido, até a elaboração seus anseios e relacionamentos.

E eu não poderia começar esse assunto de outra maneira senão falando sobre os pais antes da gestação. A alimentação do homem precisa ser cuidada, contando com vitaminas que estão relacionadas com a produção de esperma, a exemplo do zinco. É ideal que tenha uma vida ritmada sempre que possível, com bons hábitos, evitando cigarros, bebidas alcoólicas e fast food, que comprometem a qualidade biológica e anímica da matéria primordial que originará esse novo ser.

A mulher especialmente deve se preparar para um estado de graça. Ter a disponibilidade de receber e gerar um ser, não é tarefa fácil! Deve-se cuidar desde a ambientação em cor, sabor, cheiros, boas conversas, cultivar a paz interior, ainda que por vezes tenha que enfrentar uma rotina pesada. A mulher não deve ter uma alimentação que “valha por dois”, mas sim equilibrada. Rica em nutrientes variados, com uma boa hidratação, alimentos frescos e sustâncias adequadas para garantir o desenvolvimento do feto e suportar as mudanças diárias que o corpo e o espírito serão submetidos nesse processo.

Além dos hábitos do casal, todos os familiares e amigos que de alguma forma participam da gravidez são corresponsáveis em manter um ambiente saudável, contribuindo com a segurança e a estrutura desse novo ser que está chegando. Tudo o que é feito antes e durante a formação do pequeno, o afeta diretamente e indiretamente.

Durante a gestação  

Tendências genéticas e pré-disposições a determinadas patologias, podem ser definidas no período de antes e durante a gestação, o que chamamos de imprinting metabólico. Algumas dessas patologias são diabetes, intolerâncias, doenças renais e obesidade. 

Além da alimentação, o ambiente salutar é bem-vindo, pois situações traumáticas e estressante durante a gestação podem determinar, mais tarde, prejuízos no desenvolvimento da criança.

Leite materno é o cerne da alimentação infantil

A partir do segundo trimestre de gestação, a mulher já percebe mudanças na mama, é a preparação para a produção de leite. A disponibilidade do leite materno surge assim que o bebê nasce, nos primeiros dias é uma secreção de caráter imunológico, o colostro, um pool de imunoglobulinas e vitamina A (um batalhão de defesas)!  Nesse momento, é tudo o que o bebê precisa, por isso o aleitamento materno na alimentação infantil é tão importante, assim como o alimento que a mãe ingere.

O leite materno é perfeito, feito sob medida, sem precisar de mais nada. Cria as defesas necessárias, protegendo-a no futuro contra alergias, infecções, doenças autoimunes e crônicas. Por isso, o ideal é que o aleitamento materno seja exclusivo por 6 meses, sempre que possível. 

Além disso, o ato de amamentar aproxima o pequeno, criando um laço, um vínculo fortalecido e seguro com a mãe, físico e emocional. No entanto, algumas mulheres produzem leite por pouco tempo ou nem chegam a produzir, isso pode acontecer em situações de estresse, histórico de distúrbios hormonais ou depressão pós-parto.

Nesses casos, é necessário recorrer à alimentação infantil artificial e é possível fazer adaptações com fórmulas. Vale lembrar que nessa situação, a introdução alimentar é antecipada, exigindo maior atenção na qualidade dos alimentos oferecidos ao bebê.

Introdução alimentar sólida

Em um desmame regular, que acontece por volta dos 6 meses de vida da criança, a introdução alimentar inicia seu processo.

Nesse momento, é importante entender o ritmo da criança e aos poucos incluir frutas, legumes e cereais no cardápio diário, ainda sendo o leite materno o principal alimento.

Entre uma mamada e outra comece pelas frutas, pois seu sabor adocicado se assemelha ao leite materno, assim são mais fáceis de serem aceitas. Ofereça um pedaço grande entre uma mamada e outra para que a criança desenvolva um bom relacionamento com a comida. Trabalha o tato, o paladar, olfato e o movimento da boca que precede a mastigação.

A cada semana, a criança pode experimentar algo diferente, e caso realmente não goste do alimento, vale deixar a opção de lado e tentar mais tarde, as vezes o sistema digestório da criança ainda não está preparado para receber aquele alimento. Anote, faça uma listinha dos itens que não a agradaram para introduzi-los depois. Lembre-se, dentro da sazonalidade você também encontrará alimentos próprios para cada fase.

Na alimentação infantil de forma geral, os líquidos, sobretudo a água, são essenciais e complementam as preparações de alimentos pastosos e sólidos como o purê, papinhas e cereais em forma de mingau. É preciso cuidar da qualidade desses alimentos. Para que então possa evoluir na quantidade, adquirindo um ritmo bom até o pequeno adquirir uma segurança e maturidade com o que está ingerindo.

O segredo está em entender que esse processo é uma transição, que demanda paciência, carinho, adaptações, erros e acertos.

Leia também: Checklist básico para uma alimentação saudável

Por que ofertar cereais na alimentação infantil?

Os cereais integrais, por exemplo, são ricos em componentes primordiais, como as vitaminas B1 e B6. Que ajudam no desenvolvimento do cerebrosídio (lipídeos encontrados nas membranas das células neurais). Já os legumes e frutas são carregadas de vitaminas e minerais essenciais para um crescimento saudável. 

 A alimentação infantil fundamenta a constituição da criança, ossos, órgãos, cérebro e suas conexões. A criança gasta energia pelo constante crescimento, a todo tempo suas células estão em processo de construção e regeneração, sendo necessário oferecer matéria prima de alta qualidade.

A deficiência desses nutrientes na infância como a vitamina A, C e todo complexo B, pode comprometer seu desenvolvimento regular. Deficiências de vitaminas e minerais que fazem parte dos processos de construção e regeneração podem promover mais tarde o desenvolvimento de doenças inflamatórias, alergias, anemias, assim como debilidades no desenvolvimento dos sentidos. 

O que evitar em um cardápio infantil? 

Os pequenos não precisam de alimentos industrializados, como doces, refrigerantes, suco de caixinha e salgadinhos. Condimentos que ressaltam o sabor do alimento podem atrapalhar a percepção do gosto real da comida. Criança precisa de comida de verdade, aquela feita em casa com ingredientes comprados na feira. Mitos e questões culturais alimentares podem interferir e atrapalhar a compreensão das reais necessidades de uma criança. Vale ressaltar: criança aprende por imitação de quem a cuida, ela não sente vontade de doces e alimentos processados, a menos que seja apresentada a esses alimentos e que seu consumo seja aprendido.

Mas o ambiente também importa: no primeiro setênio (do nascimento até os sete anos), a criança precisa sentir que participa da rotina da casa, isso é saudável. Sentir-se em um ambiente seguro e recebendo a devida atenção é também uma forma de nutrição! 

A alimentação da casa deve ser coerente, se a criança percebe que os pais consomem uma comida diferente, ela também vai querer. Afinal, os pequenos aprendem por imitação daqueles que estão ao redor. Portanto a alimentação dos pais deve ser tão boa quanto a dos filhos, pois ao final do primeiro ano de vida, a criança compartilhará as mesmas refeições que os pais.

 Quando levar a criança ao nutricionista?

A hora certa de levar a criança ao nutricionista é na barriga da mãe! Toda a nutrição da criança começa na gestação, o que a mãe come é o que a criança “come”. Os pais devem consultar a nutricionista de tempos em tempos para orientações, adaptações e acompanhamento do desenvolvimento da criança em todas as suas fases: aleitamento, introdução alimentar, pré-escolar, escolar, puberdade. Até o momento em que a criança se torne um jovem adulto e esteja capacitado para cuidar da sua própria alimentação.

A indicação de um especialista em nutrição se faz necessária quando há patologias de qualquer ordem, e não somente às relacionadas a alimentação infantil.

O importante é ter dedicação e oferecer os alimentos adequados a cada fase, além de amor, carinho e atenção, para que o pequeno se desenvolva com tranquilidade. Continue acompanhando meu blog para mais conteúdos como este.

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