Conversa com a Renata S. Eisenmann: A nutrição e as doenças crônicas

por | maio 7, 2021 | Nutrição antroposófica

Em minha experiência com a antroposofia aplicada na nutrição e farmacologia, posso afirmar que cada pessoa é um universo próprio, com as suas particularidades, desejos, história e necessidades.

O tratamento de um paciente com doença crônica começa com o despertar da sua consciência em relação ao seu corpo e aos fatores que essa doença envolve e exige. Na antroposofia, entende-se que a nutrição fornece uma estrutura para esse despertar da consciência, promovendo uma vida mais harmoniosa e coerente, sintonizada com as necessidades do corpo físico e da alma.

Quer saber de que forma a nutrição antroposófica proporciona essas ferramentas? Eu conto para você.

A nutrição e a consciência  

Partirei de um princípio que trago comigo: se alimentar é mais do que saciar a fome, é uma das formas de nutrir a alma. Esse princípio se estende ao contexto social, bem como espiritual e tudo o que nos cerca.

Nutrir-se é também relacionar-se com o outro, ler livros, ouvir música e tudo mais que consumimos e colocamos para dentro do nosso universo particular. Cada pequena informação ou alimento que consumimos gera um impacto nesse universo, pode ser grande ou pequeno, harmonioso ou desestruturante. É por isso que nosso primeiro passo é em direção ao despertar da consciência. Estejamos atentos e presentes no agora.

As mudanças que vão chegando acontecem de forma gradativa, não há milagre! Cada pessoa tem um tempo e ritmo particulares e isso precisa ser respeitado. É preciso ter paciência com quem ainda não chegou no momento de compreender a importância e a grandiosidade desse processo.

“As pessoas descobriram que muitas moléstias da época moderna devem ser atribuídas ao estilo de vida atual, e se o homem quer tornar-se senhor do seu organismo, deve escolher conscientemente a sua alimentação”, segundo R. Steiner.

Vamos falar sobre patologias?

Apresentei a você um pouco sobre como é o acolhimento da nutrição antroposófica quando se trata de um paciente com doença crônica.

Um dos pontos que chamo a atenção é a substituição de um alimento por outro alternativo, adequado à patologia, mas que não colabora para um despertar da consciência. Por exemplo, um diabético que não pode comer doces, parte para os adoçantes. Ou um celíaco que não pode comer glúten, substitui o pão de trigo por pães de outros farináceos.

Agora, por que a simples substituição pode ser perigosa? Por não promover uma consciência das causas da patologia, sendo assim, as mudanças de estilo de vida que precisariam acontecer para o reequilíbrio desse sistema não acontecem!

E pior, ficam mascaradas pela conveniência da substituição fácil de um alimento pelo outro. Chamo isso de “trocar seis por meia dúzia”, ou seja, não muda nada! Tratar o sintoma não é tratar a raiz da questão.

Causas das doenças

As causas das patologias podem estar relacionadas tanto a processos físicos e anímicos quanto cármicos. E a nutrição pode encaminhar, tratar os sintomas e auxiliar no equilíbrio anímico. Vale lembrar que a nutrição é fundamental e, diante dessa complexidade, o tratamento multidisciplinar com outras terapêuticas associadas é muito importante.

Também precisamos prestar atenção na sistematização dos alimentos: o pão, o leite, a manteiga de todas as horas, assim como qualquer alimento que esteja presente diariamente mais de uma vez por dia. O corpo precisa de variabilidade de nutrientes ao longo da semana. Como conseguir um corpo saudável sendo alimentado sempre com as mesmas “coisas”??

Não tem problema um diabético comer um alimento com adoçante eventualmente, mas o que geralmente acontece é o “doce de todo o dia” com adoçante. Tamanha é a frequência da ingestão desse produto que ele se torna um malefício para o organismo. Haja fígado para metabolizar tanta química…

Leia também: Renata S. Eisenmann: Especialista em Nutrição Antroposófica e Clínica Funcional

Doenças Inflamatórias Intestinais (DII’s)

Pacientes com DII’s, tem um prejuízo muito grande na absorção dos nutrientes por conta de um processo inflamatório constante que faz com que o intestino fique todo machucado e com cicatrizes, perdendo as suas vilosidades (regiões de absorção dos nutrientes no intestino).

Como agir nessa situação?

Alimentos como carnes vermelhas, açúcares e carboidratos simples aumentam a inflamação e o desconforto. Causam flatulência, dores abdominais e cólicas, resultando em processos de fermentação que impactam na microbiota intestinal.

Por serem macromoléculas, o glúten e a caseína (proteína do leite), nesse caso, podem ser “inimigos ocultos”. Eles fermentam e machucam o intestino, causando ainda mais inflamações e cicatrizes, um processo de reparação irreversível.

As patologias com intervenções medicamentosas

Normalmente as doenças crônicas necessitam de terapias medicamentosas, muitas vezes de forma contínua. Para essas situações é preciso avaliar a bioquímica dos alimentos que podem interagir com os fármacos. A interação de certos alimentos com medicamentos específicos pode diminuir ou potencializar os efeitos do fármaco, alterando a posologia adequada.

Portanto, é necessário elaborar uma estratégia alimentar que além de nutrir e tratar o paciente, também não cause interação com os medicamentos usados. Essa tríade, alimento + patologia + medicamento, deve andar de mãos dadas e ser ajustada sempre que necessário, para a segurança e bem-estar do paciente. Isso faz com que o alimento seja um remédio para o corpo e contribua para uma melhora e estabilização da doença.

E quais são os próximos passos?

Além da substituição necessária dos alimentos que podem prejudicar ou serem inadequados a cada caso, é preciso começar a trilhar novos caminhos de conscientização que envolvem novos hábitos alimentares. Assim como a procedência do alimento e suas formas de preparo, trazendo consciência de todo o processo, desde a escolha do que se coloca no prato, até os aspectos sociais e de sustentabilidade desse alimento.

Aqui lanço mão de toda a minha experiência como profissional da nutrição e da visão antroposófica para orientar o paciente nessa nova jornada!

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